Segundo Brown e Lomolino (2006) a Biogeografia é a ciência que:
Preocupa em documentar e compreender modelos espaciais de biodiversidade.
É o estudo da distribuição dos organismos, tanto no passado quanto no presente, e dos padrões de variação ocorridos na Terra, relacionados à quantidade e aos tipos de seres vivos. Estudo dos seres vivos no contexto temporal e espacial.
A ciência pode ser caracterizada por perguntas, tais como:
- Por que há tantos seres vivos?
- Como e por que uma espécie ou um grupo taxônomico superior está(ão) ocupando a presente área de ocorrência?
- O que possibilita uma espécie a viver onde se encontra e o que impossibilita a colonizar outra área?
- Qual o papel do clima, solo, topografia, e interações com outros organismos limitando a distribuição de uma espécie?
- Como diferentes tipos de organismos são substituídos por outros com as alterações nos sítios?
- Como dada espécie ficou restrita a uma determinada área de ocorrência?
- Quais são as espécies aparentadas e onde são encontradas? Em que local vive seus ancentrais?
- Como eventos históricos, tais como, a deriva continental e as glaciações no Pleistoceno afetaram a distribuição das espécies?
- Por que há muito mais espécies nos trópicos do que em latitudes temperadas ou árticas? Como ilhas oceânicas isoladas são colonizadas e por que há quase sempre um número reduzido de espécies em ilhas do que nos mesmos tipos de habitats no continente?
- Como uma espécie se limitou a seu espaço natural?
A História da Biogeografia
1 - Período Clássico (1760-1860) – Este período ficou caracterizado pela publicação de vários volumes sobre história natural, publicadas entre 1749 e 1804, por Georges-Louis Leclerc, Comte de Buffon (1707-1788).
2 - Período Wallaciano (1860-1960) – Alfred Wallace (1823-1913), contemporâneo de Darwin, utilizou a teoria evolucionária para explicar endemismos e regiões biogeográficas.
3 - Período Moderno (início em cerca de 1960 com o redescobrimento da moderna teoria da deriva continental/placas tectônicas). De acordo com a teoria das placas tectônicas, as maiores características geológicas são instáveis e a moderna explicação biogeográfica sugere que a vida na Terra tenha evoluído com parte da evolução da geografia da Terra.
A concepção moderna de Biogeografia baseia-se na premissa de que:
“a evolução da vida ocorreu concomitantemente à evolução geográfica da Terra”
Cientistas importantes na história da Biogeografia:
Aristóteles: um dos mais antigos a indagar-se sobre a questão; De onde veio a vida, e como se diversificou e se espalhou através do globo?
Figura 1: Carolus Linnaeus |
Carolus Linnaeus ( 1707-1778 - Figura 1): Supôs que a vida tinha se originado, ou sobrevivido a dilúvio bíblico, ao longo das encostas do Monte Ararat, uma alta montanha próxima à fronteira da Turquia e Armênia onde se diz que a arca de Nóe aportou (Figura 2). Á medida que se subia na montanha, os distintos ambientes iam se sucedendo, desde os desertos até as tundras alpinas. Assim cada uma dessas zonas abrigava um conjunto distinto de espécies, cada uma imutável, mas perfeitamente adaptável àquele ambiente. Uma vez que o dilúvio recuou, essas espécies migraram da base da montanha e se espalharam, colonizando seus respectivos ambientes em diferentes regiões do globo. ( (Brown e Lomolino,2006. pg 14-15).
Figura 2: Monte Ararat, atualmente próximo à fronteira da Turquia e Armênia. |
Figura 3: Buffon |
Buffon examinou as espécies de mamíferos do Velho Mundo conhecidas na época e mostrou que a maioria delas não possuía correspondentes na América, isto é, eram espécies exclusivas do Velho Mundo. A partir de suas descobertas foi formulada a Lei de Buffon, segundo a qual diferentes regiões do globo, apesar de compartilharem as mesmas condições, são habitadas por diferentes espécies de animais e plantas. Os estudos de Buffon s
ugerem causas históricas para os padrões de distribuição, ou seja, ou o grupo de organismos surgiu naquela dada área ou veio de outro lugar. No primeiro caso, se for uma espécie, implica em dizer que a especiação ocorreu naquela área; no segundo caso, houve dispersão e conseqüente colonização. ( (Brown e Lomolino,2006. pg 15-16).
Figura 4: Forster |
Johann Reinhold Forster (1729 - 1798 - Figura 4): Fez uma das primeiras deduções iniciais do que viria a ser chamado de biogeografia de ilhas e a teoria da diversidade das espécies. Ele notou que comunidades insulares possuíam menos espécies vegetais do que no continente, e que o número de espécies nas ilhas aumentava de acordo com recursos disponíveis. Também notou a tendência de diminuição da diversidade vegetal do equador aos pólos, um padrão que ele atribuiu à direções latitudinais de elevação da temperatura na superfície terrestre. ( (Brown e Lomolino,2006. pg 15-16).
Figura 5: Willdenow |
Karl Willdenow ( 1765 - 1812 - Figura 5): Escreveu a maior síntese fitogeográfica. Descreveu as províncias florísticas da Europa e forneceu alternativas para explicar suas origens - contrariando a teoria de Lineu. Sugeriu que havia muitos outros lugares, como ponto de origem das espécies - montanhas que em tempos passados eram separados por mares. Cada um desses refúgios montanhenses era habitado por um conjunto distinto de vegetação local criada. Com o recuo do dilúvio, essa vegetação pode então se dispersar, formando assim, as regiões florísticas do mundo. Porém não foi ele considerado o pai da fitogeografia mas sim seu aluno Alexander von Humboldt. (Brown e Lomolino,2006. pg 15-16).
Figura 6: Humboldt |
Alexander von Humboldt ( 1769 - 1859 - Figura 6): Pai da fitogeografia. Notou que o zoneamento florístico que Forster descreveu ao longo dos gradientes latitudinais também poderia ser observado em uma escala mais local ao longo de gradientes altimétricos. Percebeu que mesmo no interior das regiões, as plantas estavam distribuídas em zonas de altitude, ou cinturões florísticos, variando de equivalentes equatoriais tropicais em baixas elevações até equivalentes boreais árticos nos topos.(Brown e Lomolino,2006. pg 15-16).
Figura 7: Candolle |
Augustin P. Candolle ( 1778 - 1841 - Figura 7): Adicionou que os organismos não são somente influenciados pela luz, calor e água, como também competem por esses recursos. Enfatizou a distinção entre províncias bióticas ou regiões e habitats locais. Adicionou nas observações de Fosters que enquanto o número das espécies é em maioria grandemente influenciado pela área insular, outros fatores, como a idade da ilha, vulcanismos, clima e insolação também influenciam a diversidade florística dentro de uma ilha. Foi um dos primeiros a escrever sobre a competição e a luta pela existência, um tema que viria a ser central para o desenvolvimento da teoria evolutiva e ecológica. (Brown e Lomolino, 2006. pg 15-17).
Figura 8: Lyeel |
Charles Lyeel ( 1797 - 1875 - Figura 8 ): considerado o pai da Geologia, concluiu junto com Adolphe Brongniart (1801 - 1876) pai da Paleobotânica, que o clima da Terra era altamente mutável. Ambos usaram o registro para deduzir as condições de climas passados. Descobriram que muitas formas de vida, hoje adaptadas a clima tropicais, habitaram as atuais regiões temperadas do norte da Europa. Lyell também percebeu que o nível do mar também mudou e que o soerguimento e a erosão das montanhas alteraram a superfície da Terra. sendo para ele, essa a explicação plausível para a presença de fósseis marinhos nos topos das montanhas. Também forneceu evidências para o processo de extinção. (Brown e Lomolino,2006. pg 16-19).
Os Quatro cientista Britânicos:
Figura 9 - Os quatro cientistas Britânicos: Darwin, Hooker, Sclater e Walllace, da esquerda para direita. |
Charles Darwin (1809 - 1882): Percebeu que o isolamento geográfico facilita a variação dentro e entre populações. Desenvolveu sua Teoria da Evolução, considerando a seleção natural como o principal mecanismo através do qual novas formas de vida se originavam, e ainda se origina. Essa teoria se classifica como um dos mais importantes avanços científicos de todos os tempos e está intrinsecamente relacionada a todos os aspectos da biogeografia. (Brown e Lomolino,2006. pg 19-25).
Foseph Dalton Hooker ( 1817 - 1911): Considerado o fundador da biogeografia histórica. Hooker compartilhou com Darwin suas ideias sobre distribuição geográfica das plantas e foi um dos poucos a encorajar Darwin a continuar trabalhando, e mais tarde publicar, A origem das espécies. Hooke afirmava que, na maioria das vezes, a dispersão a longa distância era uma explicação insuficiente para as distribuições das espécies. Ele argumentou que os padrões biogeográficos e a peculiaridade da flora do Hemisfério Sul não eram compatíveis com a hipóteses dispersionista de Darwin, ao contrário, acreditava na hipótese de todos serem membros de uma flora extensa e mais contínua de terra... e que foi separada por fatores geológicos e climáticos, um dos princípios propostos por ele da biogeografia vicariante. (Brown e Lomolino,2006. pg 19-25).
Philip Lutley Sclater (1819 - 1913): Foi um grande amigo de Darwin e um famoso ornitologista. Ele propôs um esquema que dividia a Terra em regiões biogeográficas (Figura 10) que iriam refletir tanto na fauna quanto na flora o que diferenciou sua divisão dos outros cientistas que privilegiavam fatores arbitrários como longitude e latitude. Baseou seu esquema de divisão num grupo que conhecia bem, as aves. (Brown e Lomolino,2006. pg 19-25).